segunda-feira, 24 de agosto de 2009

JAZZ DAQUI: Jimmy Jimmy & The JazzBreakers


A banda de ‘Jimmy Jimmy & The JazzBreakers’ possui em sua formação os músicos voltarredondenses Fabrício Santos, 24 (guitarra); Jr. Trakinas, 26 (sax); Bruno Salles, 27 (baterista) e Jeffin Rodegheri, 30 (baixo). Jeffin Rodegheri explica a origem do nome da banda, um tanto incomum. “Jimmy Jimmy é o nome do macaquinho de pelúcia que o Bruno sempre usa em cima do bumbo da bateria”, disse, acrescentando que o ‘The JazzBreakers’ é uma espécie de trocadilho com ‘Art Blakery & The JazzMensegers’ e ‘John Mayall & The BluesBreakers’, consagradas bandas de blues e jazz. De acordo com Jeffin, a banda teve início no segundo semestre de 2008, de forma bastante casual. Longe de ser uma banda ‘cover’ como tantas outras da cidade do aço, a ‘The JazzBreakers’ já possui composições próprias em seu repertório. “A gente toca de tudo que possa se encaixar bem no formato instrumental. Então, além dos temas famosos e tradicionais do jazz, fazemos versões de temas de desenhos animados, de músicas do Milton Nascimento, do Djavan e do Toninho Horta”, revela Jeffin, dando uma ideia de onde vem tanta criatividade musical. “Cada um dos integrantes da banda veio com uma formação musical diferente – do metal, do erudito, do rock. Então, nosso som tem realmente um pouco de tudo. Não somos uma banda de jazz que só ouvia jazz desde criança”, ressalta.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

DICAS DE RÁDIOS ON LINE

Onde você pode ouvir jazz enquanto navega. Aproveite!

Jazz
Este endereço faz parte do site Jazz Multiply, uma extensão do Guia de Jazz. Aqui, você encontra cerca de 600 músicas dos mais diversos jazzistas. Novas músicas são incluídas semanalmente. Para ouvi-las é preciso ser cadastrado no site Multiply.

Smooth Jazz Expressions
Comandada por Kerri D, a rádio não é exatamente uma rádio, apesar de estar no ar 24h. Todas as quintas-feiras, às 22h, Kerri apresenta ao vivo o programa After Hours. Além de ouví-la é possível vê-la em ação por meio de uma câmera. No restante da semana, é possível ouvir o melhor do smooth jazz.

Deezer
O site não propriamente uma rádio, mas um portal de música para você ouvir milhares de canções diretamente do site. Com tecnologia Web 2.0, você pode criar sua própria playlist e ainda pode selecionar álbuns preferidos para ouvir sempre que quiser. Há dezenas de discos de jazz.

Jazz 91 FM
A rádio canadense, situada em Ontário, é uma das principais rádios de jazz do país. Com uma programação voltada ao jazz tradicional e aos novos talentos, a 91 FM vem conquistando novos ouvintes nos últimos 10 anos. O site traz notícias, dicas de CDs e matérias sobre shows e artistas locais.

KFSR 90.7 FM
Localizada na cidade de Fresno, na Califórnia, a rádio universitária é sinônimo de boa música. Destaque para os programas Listen Here: The Jazz Review e Latin Jazz. No site você encontra muita informação e arquivos com dezenas de entrevistas para ouvir.

KKSF 103,7
Baseada em São Francisco, na Califórnia (EUA), a rádio tem uma das melhores programações quando o assunto é smooth jazz. Entre suas atrações estão músicos como Anita Baker, Fourplay e Rick Braun.

WFIT 89,5
Com uma programação variada, que inclui programas de blues e jazz, tradicional e contemporâneo, a rádio localizada na cidade de Melbourne, no estado da Flórida (EUA), vale ser escutada.

Bay Smooth Jazz 105,9
Para quem gosta de smooth jazz, a rádio norte-americana da Georgia é garantia de boa música. Entre suas atrações estão Sade, Jeff Golub, Kenny G e Richard Elliot.

WBGO 88.3
Considerada uma das mais populares rádios de jazz dos Estados Unidos, a emissora, de Nova Jersey, completou 25 anos em 2004. Com uma programação variada e muita informação, a WBGO toca jazz tradicional, com ênfase nos lançamentos. O site é completo, incluindo a relação das músicas, separadas por hora, que tocam na programação.

Lincoln Center
Lincoln Center de Nova York, considerado o mais importante local para se escutar e aprender sobre jazz. O visitante encontrará dezenas de programas pré-gravados. É só escolher um e boa audição.

KSDS FM 88.3
Rádio baseada em San Diego, Califórnia, toca desde o jazz tradicional até novos talentos do gênero. Página simples, com notícias e calendário com informações sobre os músicos.

KLON 88.1 FM
Rádio localizada em Long Beach, Califórnia. Toca jazz tradicional.

KUVO 89.3 FM
Rádio pública americana localizada na cidade de Denver, no Colorado. Além de jazz, toca música latina e blues.

WCLK 91.9 FM
Rádio de Atlanta, no estado da Georgia, EUA. Tem uma programação variada com vários estilos de jazz como latin jazz, swing e jazz tradicional.

Live 365
Mais um site que traz centenas de rádios divididas por gênero. É fácil navegar e tem várias opções em todos os estilos. Informam qual o tipo de conexão é mais adequada para ouvir cada uma delas.

KCLU 102.3 FM
Essa rádio se dedica exclusivamente ao chamado smooth jazz ou easy listening. A emissora pertence a uma universidade na cidade de Santa Bárbara, na Califórnia.

WGMC 90.1 FM
Essa rádio fica no estado de Nova York. Tem uma boa programação que toca os mais famosos jazzistas americanos.

Radio-Jazz
Rádio Suíça, com uma programação bem feita, baseada no jazz tradicional. Em francês.

Jazz24
A rádio localizada no estado de Washington (EUA) tem uma programação baseada no jazz tradicional. Durante a transmissão, é possível saber qual artista e canção está tocando e ver a capa do disco. O site ainda tem um blog com notícias e resenhas de shows e CDs.

WDNA 88.9 FM
Rádio de Miami, com uma programação baseada no jazz e na música latina. O site ainda traz notícias e dicas de lançamentos.

KPLU 88.5 FM
A rádio oferece além de jazz, world music, blues e clássico. Emissora de Parkland, Washington.

KXEZ 92.1 FM
Estação que fica na cidade de Dallas, Texas, especializada em big-bands, cantores e cantoras de jazz. Você vai ouvir muito Frank Sinatra, Bing Crosby, Benny Goodman, Louis Armstrong e Billie Holiday. Confira.

Swiss Jazz
Rádio suíça de jazz, blues e R&B. O site, em francês, ainda conta com informações e lista de músicas da programação.

KCSM 91.1 FM
Mais uma rádio universitária, mas essa tem na programação apenas o jazz tradicional de Chet Baker, Miles Davis, Joe Henderson, entre outros.

WKCR 89.9 FM
Rádio da Universidade de Columbia, na cidade de Nova York. Como fica na maior metrópole do mundo e tem um público exigente, a rádio tem uma das melhores programações de jazz.


http://www.accuradio.com/
Neste site você encontra rádios que tocam todos os estilos de jazz, como também outros estilos musicais


http://www.lastfm.com.br/
Aqui você pode criar sua rádio com suas músicas prediletas




Fonte:
http://www.sobresites.com/jazz/radios1.htm

LIVROS

Aqui está uma pequena lista de indicações de livros, caso você deseje se aprofundar neste tema fascinante.

Berendt, Joachim E. / Feather, Leonard e outros - História do jazz. São Paulo: Abril Cultural, 1981.
Berendt, Joachim E. - O jazz do rag ao rock. São Paulo: Perspectiva, 1975. (Coleção Debates, vol. 109)
Calado, Carlos - Jazz ao vivo. São Paulo: Perspectiva, 1989. (Coleção Debates, vol. 227)
Calado, Carlos - O jazz como espetáculo. São Paulo: Perspectiva, 1990. (Coleção Debates, vol. 236)
Collier, James L. - Jazz - A autêntica música americana. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1995.
Cook, Richard / Morton, Brian - The Penguin Guide to Jazz on CD. 5a. edição. Londres: Penguin, 2000.
Erlich, Lillian - Jazz: Das raízes ao rock. São Paulo: Cultrix, 1977.
Francis, André - Jazz. São Paulo: Martins Fontes, 2000.
Hobsbawm, Eric J. - História social do jazz. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1990.
Holiday, Billie / William Dufty - Lady sings the blues: Uma autobiografia. São Paulo: Brasiliense, 1985.
Jones, LeRoi - O jazz e sua influência na cultura americana. Rio de Janeiro: Record, 1967.
Kirchner, Bill (ed.) - The Oxford Companion to Jazz. New York: Oxford University Press, 2000.
Muggiati, Roberto - New Jazz: De volta para o futuro. São Paulo: Editora 34, 1999.
Summerfield, Maurice J. - The Jazz Guitar - Its Evolution and Its Players. Ashley-Mark, 1980

HISTÓRIA DO JAZZ

Nascido do blues, das work songs dos trabalhadores negros norte-americanos, do negro spiritual protestante e do ragtime, o jazz passou por uma extraordinária sucessão de transformações no século XX. É notável como essa música se modificou tão profundamente durante um período de apenas um século.
O termo jazz começa a ser usado no final dos anos 10 e início dos anos 20, para descrever um tipo de música que surgia nessa época em New Orleans, Chicago e New York. Seus expoentes são considerados "oficialmente" os primeiros músicos de jazz: a Original Dixieland Jass Band do cornetista Nick LaRocca, o pianista Jelly Roll Morton (que se auto-denominava "criador do jazz"), o cornetista King Oliver com sua Original Creole Jazz Band, e o clarinetista e sax-sopranista Sidney Bechet. Em seguida, vamos encontrar em Chicago os trompetistas Louis Armstrong e Bix Beiderbecke, e em New York o histriônico pianista Fats Waller e o pioneiro bandleader Fletcher Henderson. Em 1930 o jazz já possui uma "massa crítica" considerável e já se acham consolidadas várias grandes orquestras, como as de Duke Ellington, Count Basie, Cab Calloway e Earl Hines.
A evolução histórica do jazz, assim como da literatura, das artes plásticas e da música clássica, segue um padrão de movimento pendular, com tendências que se alternam apontando em direções opostas. Em meados dos anos 30 surge o primeiro estilo maciçamente popular do jazz, o swing, dançante e palatável, que agradava imensamente às multidões durante a época da guerra. Em 1945 surge um estilo muito mais radical e que fazia menos concessões ao gosto popular, o bebop, que seria revisto, radicalizado e ampliado nos anos 50 com o hard bop. Em resposta à agressividade do bebop e do hard bop, aparece nos anos 50 o cool jazz, com uma proposta intelectualizada que está para o jazz assim como a música de câmara está para a música erudita.
O cool e o bop dominam a década de 50, até a chegada do free jazz, dando voz às perplexidades e incertezas dos anos 60. No final dos anos 60, acontece a inevitável fusão do jazz com o rock, resultando primeiro em obras inovadoras e vigorosas, e posteriormente em pastiches produzidos em série e de gosto duvidoso. Hoje existe espaço para cultivar todos os gêneros de jazz, desde o dixieland até o experimentalismo free, desde os velhos e sempre amados standards até as mais ambiciosas composições originais para grandes formações. Mas qual seria o estilo de jazz próprio dos dias de hoje? Talvez o jazz feito com instrumentos eletrônicos - samplers e sequenciadores - num cruzamento com o tecno e o drum´n´bass. Se esse jazz possui a consistência para não se dissolver como tantos outros modismos, só o tempo dirá.


ELEMENTOS DO JAZZ

Muito já se escreveu sobre a dificuldade de se definir o jazz. Uma corrente de pensamento afirma que o jazz não é o que se toca, mas sim como se toca. De qualquer modo, pode-se afirmar com certa confiança que dois elementos são absolutamente necessários numa performance de jazz: o swing e a improvisação.
Nenhuma apresentação ou gravação de jazz está completa se não contiver algum trecho improvisado. Uma peça de jazz 100% escrita e fixada na partitura é uma contradição - o que, diga-se de passagem, indica que peças como a "Suíte para Flauta e Piano de Jazz", de Claude Bolling, embora muito agradáveis de se ouvir, não são propriamente jazz. Fazer jazz significa assumir um risco - o risco de se confrontar com o silêncio e preenchê-lo com um discurso inédito e próprio, o risco de ser um "compositor instantâneo", como dizia Charles Mingus.
O conceito de improvisação, em si, não apresenta grandes dificuldades para ser entendido, embora exija anos e anos de dedicação para ser posto em prática. Trata-se de tecer - em tempo real, no exato momento em que se está tocando - variações em torno de algo que serve de base: a linha de uma canção que serve de tema, uma sequência de acordes, alguns intervalos melódicos, uma tonalidade.
As variações têm uma longa tradição na música clássica ocidental: grandes compositores escreveram ciclos de variações, explorando até o limite o potencial de seus temas. Na Renascença já era habitual tomar como tema uma canção popular e fazer variações sobre ela. Isto era chamado na Inglaterra de divisions on grounds e na Espanha de diferencias sobre bajos ostinados. Os instrumentistas, que freqüentemente eram também compositores, competiam entre si, cada um tentando sobrepujar os rivais em virtuosismo e engenhosidade.
Assim como as variações, a improvisação não é uma invenção moderna. Bach era um improvisador de mão-cheia (e improvisava fugas, sendo que a fuga é a forma mais estruturada e complexa de toda a música!). Se Bach tivesse nascido no século XX, sem dúvida seria um jazzman... Na Renascença já havia o costume de se apresentar peças de caráter improvisatório e de forma totalmente livre, denominadas fancies (em inglês) ou fantasias (em espanhol), nas quais o executante dava largas à sua imaginação. Muitas dessas fantasias e coleções de variações foram registradas em partitura, e assim podemos reviver e apreciar, depois de séculos, ainda que sem a espontaneidade do momento, as "jam sessions" de outrora.
Definir o swing é algo muito mais difícil. Trata-se de algo que engloba o fraseado, o ritmo, o ataque das notas. O swing não se escreve numa partitura, por mais detalhada e precisa que seja a sua notação. A definição dada por André Francis, em seu livro Jazz, é bastante interessante: "tocar com swing, swingar, significa trazer à execução de uma peça um certo estado rítmico que determine a sobreposição de uma tensão e de um relaxamento". Esta é a dialética do swing, por assim dizer: dar flexibilidade a um ritmo, dar "balanço" a uma frase, e contudo manter a precisão, preservar o foco da música, evitando que ela perca o caráter incisivo.
Podemos usar uma analogia sugerida por Charles Mingus para caracterizar o swing: vamos partir de uma música na qual os tempos estão precisamente definidos. Em seguida delimitamos um "halo", uma pequena região ao redor da posição original de cada nota: a nota, agora, pode cair em qualquer ponto dessa região, a critério do executante. A música como um todo, portanto, oscila caprichosamente dentro dessas regiões de "incerteza". É importante que o âmbito dessas pequenas regiões não ultrapasse aquele ponto no qual o ritmo deixa de ser swingado para se tornar impreciso. Como se determina esse ponto? Os bons músicos de jazz têm uma intuição desenvolvida a tal ponto que mantêm esse jogo de precisão e imprecisão perfeitamente sob controle, o tempo todo - e o resultado, todos nós conhecemos: o deleite de escutar uma interpretação cheia de swing.

Fonte: http://www.ejazz.com.br/

INSTRUMENTOS NO JAZZ

Contrabaixo

O contrabaixista é considerado, pela maior parte do público, ainda que inconscientemente, como sendo “aquele sujeito lá no fundo do palco”. Simpático, porém secundário. Muitos contrabaixistas já se queixaram dessa idéia pré-concebida. E, de fato, essa imagem está bastante longe da realidade no jazz moderno. Como veremos, o papel do contrabaixo é bem mais complexo.
Nos primórdios do jazz a função de executar a voz grave da trama harmônica e polifônica era executada por um instrumento de sopro: a tuba. Essa tradição permaneceu por algum tempo, mesmo após a emergência do contrabaixo; até meados dos anos 30 ainda havia contrabaixistas que tocavam também a tuba.
O fato de, diferentemente do que acontece na música clássica, o contrabaixo ser sistematicamente tocado no jazz em pizzicato (isto é, dedilhado, quando na realidade o instrumento foi concebido originalmente para ser tocado com arco) tem uma origem histórica documentada. Certo dia, em 1911, Bill Johnson, que tocava contrabaixo (com arco) na Original Creole Jazz Band, teve o arco quebrado. Não tendo outro à mão, Bill tratou de tocar dedilhando as cordas com os dedos da mão direita. O resultado agradou tanto que desde então (quase) nunca mais se usou o arco para tocar esse instrumento. Na verdade, é provável que, mais cedo ou mais tarde, o contrabaixo começasse a ser tocado com os dedos - isso por causa da função estrutural que ele executa dentro do conjunto de jazz. E aqui, existem dois aspectos que merecem ser discutidos.
Primeiro, e mais óbvio, o contrabaixo tem a função de fornecer a base harmônica da música. Na harmonia tonal, é preciso que um instrumento se encarregue de fornecer a nota fundamental dos acordes. Nesse sentido, o contrabaixo do conjunto de jazz preenche uma função análoga à que desempenha na orquestra ocidental clássica. Sob esse aspecto, portanto, o contrabaixo poderia ser tocado com arco. Mas, em segundo lugar - e este é um aspecto próprio ao jazz - o contrabaixo está incumbido de escandir, isto é, subdividir, o ritmo básico. Isso reduz a trivialidade da batida (beat) simples, embora seja importante que o beat continue perceptível, pelo menos implicitamente. Para isso, em vez de simplesmente emitir as notas fundamentais dos acordes nos momentos exatos, o contrabaixo descreve um fraseado contínuo, caprichoso, com subidas, descidas e saltos, sempre orbitando os centros tonais da música. Essa pulsação às vezes lembra o caminhar relaxado de uma pessoa, daí o termo walking bass. Para executar essa função, o contrabaixo dedilhado é infinitamente mais adequado do que o contrabaixo tocado com arco. Na verdade, o contrabaixo tem um papel importantíssimo no estabelecimento do swing da música, tanto quanto a bateria. Ele contribui para a maleabilidade, a elasticidade rítmica que caracteriza o swing.
Assim como a guitarra jazzística moderna se inicia com Charlie Christian, o contrabaixo se inicia com Jimmy Blanton, que tocou com Duke Ellington e faleceu aos 23 anos. A “segunda geração” de contrabaixistas (anos 40 e 50) inclui os instrumentistas que consolidaram o lugar do instrumento entro do jazz moderno: Oscar Pettiford, Ray Brown, Milt Hinton (apelidado “The Judge”, o juiz) e o genial e turbulento Charles Mingus. Além da profunda renovação estética proposta por Mingus, com ele o contrabaixo torna-se um instrumento capaz assumir o primeiro plano, liderar conjuntos e guiar o discurso musical de um grupo. Outros contrabaixistas importantes dessa geração foram Percy Heath (integrante do Modern Jazz Quartet), Eddie Safranski (associado ao jazz West Coast) e Paul Chambers (que tocou no grupo de Miles Davis nos anos 50).
Atuando com destaque nos anos 60 temos, entre muitos outros, Jimmy Garrison (do quarteto de John Coltrane), Reggie Workman (que também tocou com John Coltrane), Scott LaFaro (que tocou com Bill Evans e foi imensamente influente, apesar de ter morrido jovem), David Izenzon (que tocou com Ornette Coleman) e Niels-Henning Orsted Pedersen. Entre os músicos que despontaram nos anos 60 encontramos vários que ainda estão muito ativos na cena jazzística atual: Charlie Haden (que participou da criação do free jazz), Ron Carter (que tocou no grupo de Miles Davis de 1963 a 1968 e participou de cerca de 3000 gravações durante a carreira), Dave Holland (descoberto por Miles Davis na época de In a Silent Way e Bitches Brew), Gary Peacock (integrante do Standards Trio de Keith Jarrett), Eddie Gomez (que tocou com Bill Evans e Chick Corea na fase mais mainstream deste) e Steve Swallow (que tocou com Gary Burton e teve uma associação estreita com Carla Bley).
Nos anos 70, despontam instrumentistas que estariam associados ao jazz fusion, como Stanley Clarke, Alphonso Johnson e Miroslav Vitous. Na era da fusion, começou a predominar o contrabaixo elétrico, mas isso não impediu que houvesse músicos capazes de executar bem tanto o instrumento acústico (chamado carinhosamente de upright, o “verticalzão”) quanto o elétrico. Um exemplo destacado de virtuosismo a toda prova, tanto no registro “plugado” como no “desplugado”, é John Patitucci, que surgiu nos anos 80 e tocou na Elektric Band e na Akoustic Band de Chick Corea. Na atualidade também estão surgindo excelentes contrabaixistas jovens, como Christian McBride, que aderem decididamente ao acústico e não pertecem à fusion, mas nem por isso deixam de fazer um jazz moderno.
Em entrevista a Don Williamson, no ano de 2000, para um website de jazz, o contrabaixista Ron Carter afirma: “Penso que meu trabalho é encontrar a nota que fará o solista não tocar o que que ele tocaria na sua sala de estar. Ou então, eu gosto de criar um ritmo que fará a banda tomar uma direção diferente. É isso o que eu gosto de fazer”. O entrevistador intervém: “Você já disse que o baixo é o ponto focal de um grupo”. Ao que Carter responde: “Sim, o baixista age como o quarterback”. Quando o entrevistador provoca: “Porém o baixo está usualmente no background...”, Carter responde: “Sim, mas se o baixista consegue saber como comandar, ele fica no fundo apenas na percepção das pessoas. A música toma a direção que o baixista estipula. Isso é que é realmente importante”. Eis aí uma verdadeira “declaração de independência” do contrabaixo moderno no jazz, por um de seus maiores expoentes. As coisas mudaram muito desde o “umpa-pá” da tuba no início do século...

EXPOENTES
Avishai Cohen Buster Williams Charles Mingus Charlie Haden Christian McBride Dave Holland Jaco Pastorius John Patitucci Nico Assumpção Oscar Pettiford Ray Brown Richard Bona Ron Carter


Bateria

A bateria sofreu uma transformação radical nos anos 40, pelas mãos de Sidney Catlett, Kenny Clarke e Max Roach. De um papel secundário, com uma função de simples marcadora de tempos, como acontecia no jazz tradicional e (com raras exceções) no swing, a bateria passou a dialogar com os outros instrumentos. O fraseado também se alterou, passando a incorporar batidas no contratempo e figuras rítmicas irregulares inseridas dentro do ritmo básico. A partir do hard bop, com Max Roach e Art Blakey, a bateria se tornou solista e mesmo líder de conjuntos. Encontramos grandes bateristas da atualidade desempenhando esse papel, como o saudoso Tony Williams, Billly Cobham e Jack DeJohnette.

EXPOENTES
Airto Moreira Art Blakey Billy Cobham Bob Wyatt Cuca Teixeira Edison Machado Gene Krupa Max Roach Nenê Richard Bona Tony Williams

Guitarra

As seis cordas - celebradas por inúmeros escritores, poetas e pintores do Ocidente; herdeiras de uma grande tradição européia que remonta aos alaúdes da Renascença e às “guitarras” do Barroco; e, mais recentemente, companheiras de incontáveis bluesmen famosos ou anônimos da América do Norte - não poderiam faltar no jazz. A importância do violão e/ou da guitarra no jazz explica-se, em parte, porque esse instrumento está situado numa posição peculiar dentro do espectro sonoro: trata-se de um intermediário entre os instrumentos puramente melódicos - como os sopros e os metais - e os instrumentos harmônicos - como, por exemplo, o piano - os quais, embora possam solar, geralmente são usados para fornecer a base para os solos. Essa posição intermediária permite à guitarra transitar entre solo e acompanhamento com naturalidade.
É comum distinguir duas eras da guitarra no jazz: antes e depois de Charlie Christian. Antes de Christian, a guitarra era meramente um instrumento acompanhador, no sentido estrito do termo: marcava o ritmo, da maneira mais simples possível, e expunha a harmonia para o canto. Embora fosse um instrumento tradicional, vindo do blues, não se achava, musicalmente falando, no mesmo plano que o piano, por exemplo. O professor de Christian, Eddie Durham, inventou a guitarra amplificada, que Christian adotou em 1937. No período de 1939 até 1941, tocando com Benny Goodman, e fazendo jam sessions com os futuros beboppers, Christian revolucionou a guitarra jazzística e estabeleceu um padrão que os guitarristas das décadas seguintes se esforçariam para atingir. Embora vindo do swing, viveu exatamente na transição para o tórrido estilo gestado no “Minton’s” e que transformaria o jazz. A sua morte, em 1942, com tuberculose, interrompeu uma evolução que prometia ainda maiores inovações.
Outro guitarrista dos anos 30, solista por excelência, e que misteriosamente parece não ter absorvido quase nenhuma influência, é Django Reinhardt (falecido em 1953, aos 43 anos). Muito querido e admirado até hoje por todos os guitarristas, homenageado numa composição do Modern Jazz Quartet (“Django”), ele tinha, no entanto, um estilo demasiado pessoal, desvinculado da evolução geral do jazz, e não gerou tantos seguidores diretos quanto Christian. Também se deve notar que a técnica desenvolvida por Christian era mais adequada à guitarra elétrica do que a de Django, oriundo do violão acústico e que aderiu ao som elétrico apenas tardiamente.
Todos os guitarristas posteriores a Charlie Christian foram influenciados por ele. Entre os maiores, podemos mencionar, dos anos 40, Tiny Grimes (que tocou no trio de Art Tatum) e, dos anos 50 em diante, Kenny Burrell (oriundo do bebop), Jimmy Raney, Barney Kessel, Billy Bauer (associado ao cool e ao West Coast), Herb Ellis (que tocou no trio de Oscar Peterson) e Charlie Byrd (admirador da música brasileira). Aparecendo um pouco mais tarde, temos o grande Joe Pass (também parceiro freqüente de Oscar Peterson), Jim Hall e o virtuose Wes Montgomery (que flertou com o pop).
A guitarra participou da evolução do jazz, ao longo do swing, do cool e do bebop, às vezes desempenhando um papel musicalmente muito relevante, porém raramente na condição de solista e líder. A passagem da guitarra para o primeiro plano absoluto se deu com o advento do jazz-rock, mais especialmente da fusion, e com o surgimento do mito Jimi Hendrix no rock. Vemos então firmarem-se virtuoses como John McLaughlin (provavelmente o maior guitarrista dessa fase), Larry Coryell, George Benson (sucessor de Wes Montgomery, na técnica e no tipo de repertório) e Pat Metheny (que atirou em diversas direções, além da fusion: folk, free e mainstream).
A valorização da guitarra nos anos 70 e 80, no contexto do rock e do jazz-rock, pode ter beneficiado indiretamente também os virtuoses mais clássicos, como Joe Pass, Hall, Byrd, Kessel e outros, que finalmente passaram a receber a atenção merecida. Também voltou a haver espaço para os violonistas acústicos, como Ralph Towner.
A técnica da guitarra no jazz varia: o mais das vezes ela é tocada com palheta, o que limita sua capacidade polifônica; ela fica reduzida a um instrumento melódico e ocasionalmente harmônico. Alguns grandes virtuoses (como Joe Pass) tocam com os dedos, à maneira do violão clássico, conseguindo assim tecer um verdadeiro tecido polifônico, com vozes simultâneas. Recentemente, Stanley Jordan se tornou famoso com uma técnica que amplia o potencial polifônico, dedilhando o braço do instrumento com as duas mãos, como num teclado de piano; o som é emitido apenas pelo choque dos dedos contra as cordas. Assim, desaparece a limitação de ser obrigado a construir a polifonia no braço do instrumento usando apenas a mão esquerda; o guitarrista passa a ser capaz de executar baixo, harmonia e melodia simultaneamente (sem a necessidade de overdubbing).
A constituição física do instrumento também varia. Ele pode ter o corpo maciço, como na célebre Fender Stratocaster e suas descendentes (algumas de design bastante bizarro), onde o sinal elétrico é gerado diretamente pelo movimento da corda metálica dentro do campo magnético do captadores. Ou pode ter o corpo oco, como na igualmente célebre Gibson ES-5 e suas derivadas, acrescentando às vibrações diretas da corda também um complexo padrão de realimentação acústica e vibração por simpatia, que altera os modos de vibração recebidos pelo captador, e portanto o timbre resultante. Em geral, as guitarras semi-acústicas são deixadas sem distorção, com o timbre mais puro, e são preferidas pelos guitarristas de jazz mais tradicionais, enquanto que as maciças têm a preferência dos guitarristas de fusion, que lhes conectam uma variedade de distorcedores, efeitos e pedais.

EXPOENTES
Barney Kessel Conrado Paulino Django Reinhardt George Benson Hélio Delmiro Heraldo do Monte Joe Pass John McLaughlin Laurindo Almeida Pat Metheny Paulo Belinatti Richard Bona Toninho Horta Wes Montgomery

Piano

Na música clássica, o piano é um instrumento quase onipresente - para satisfação de uns e irritação de outros. E no jazz não é diferente. Isso se dá mais ou menos pela mesma razão que na música clássica: o piano (como os instrumentos de teclado de modo geral) é o instrumento que possui a maior capacidade de tocar múltiplas linhas simultaneamente. Essa onipresença do piano se dá a despeito de o trompete e o sax estarem, no inconsciente coletivo, talvez mais fortemente associados ao jazz do que o piano. O piano sempre se beneficiou de um fluxo constante de novos talentos, em todos os períodos do jazz, desde o autoproclamado "inventor" do jazz, Jelly Roll Morton, até os vanguardistas radicais como Cecil Taylor e os versáteis virtuoses modernos como Chick Corea.
O uso do piano no jazz sofreu uma evolução ao longo dos anos: tornou-se elétrico no hard bop e no jazz-rock, transformou-se em sintetizador no fusion, e mais recentemente em sequenciador digital. Na atualidade, volta a ser acústico, o que não impede necessariamente uma convivência pacífica com seus parentes ligados à tomada. Uma vez que o piano esteve presente em todas, tentar contar a história do piano no jazz seria como tentar contar a história do próprio jazz.

EXPOENTES
Abdullah Ibrahim André Mehmari Anthony Braxton Antônio Carlos Jobim Art Tatum Avishai Cohen Bill Evans Billy Strayhorn Brad Mehldau Bud Powell Carla Bley Cecil Taylor César Camargo Mariano Charles Mingus Chick Corea Count Basie Danilo Perez Dave Brubeck Duke Ellington Egberto Gismonti Eliane Elias Ernesto Nazareth Fats Waller Gil Evans Herbie Hancock Hermeto Pascoal Horace Silver Jacky Terrasson Jean Michel Pilc Jeff Gardner Jelly Roll Morton Johnny Alf Keith Jarrett Lennie Tristano Marvio Ciribelli McCoy Tyner Mozar Terra Nelson Ayres Oscar Peterson Pixinguinha Richard Bona Stan Kenton Thelonious Monk

Sax Alto

A história do sax alto como instrumento de destaque dentro do jazz começa com alguns músicos que tocaram nas orquestras de swing a partir dos anos 30: Johnnny Hodges (da orquestra de Duke Ellington), Benny Carter (ele mesmo também bandleader) e Willie Smith. Nos anos 40 a história do sax alto (e talvez até mesmo do próprio jazz) se precipita sobre Charlie Parker. A sua sonoridade agressiva, seu fraseado imprevisível, sua capacidade inesgotável de improvisação, o lugar que ocupa dentro da estética do jazz como pai do bebop, até mesmo a sua biografia trágica, tudo isso o transforma numa figura de dimensões míticas. É difícil contabilizar o imenso número de saxaltistas e mesmo saxtenoristas que foram influenciados por Bird - isso não apenas nos anos 40, mas também décadas depois.
Somente com o advento do cool jazz surgiria um estilo de tocar o alto completamente diferente do de Parker: o de Lee Konitz (ligado à escola de Lennie Tristano). Também merece destaque um dos mais populares sucessores de Konitz: Paul Desmond, que integrou por longos anos o quarteto cult de Dave Brubeck e possuía um som leve e um fraseado fluido.
No cenário hardbop e posterior, temos Sonny Stitt (inicialmente influenciado por Charlie Parker, mas que, tocando também o tenor, veio a desenvolver ali um estilo mais pessoal), Julian “Cannonball” Adderley (que tocou no notável sexteto de Miles Davis na segunda metade dos anos 50), Ornette Coleman (o pai do free jazz) e Anthony Braxton (cujo disco For Alto foi um marco na evolução do sax alto contemporâneo).

EXPOENTES
Anthony Braxton Charlie Parker Hermeto Pascoal Jan Garbarek Ornette Coleman Paquito D’Rivera Paul Desmond Paulo Moura Sonny Stitt Victor Assis Brasil Wayne Shorter Woody Herman

Sax Tenor

Há quem diga que o jazz moderno está "saxtenorizado". De fato, os instrumentistas que mais gravaram nas duas últimas décadas provavelmente são os saxtenoristas, ocupando o lugar que já foi dos trompetistas. (Mas leia também sobre o renascimento recente do trompete no jazz.) Essa proeminência se deve, em grande parte, à atração que o jazz fusion tem pelo tenor da família de instrumentos inventados pelo belga Adolphe Sax. Um conjunto típico de jazz fusion na atualidade se compõe de sax tenor (ou soprano) + teclados (em geral eletrônicos) + guitarra + contrabaixo elétrico + bateria (e percussão). No entanto, o sax tenor tem uma rica história que antecede em muito os modismos recentes, e que remonta a mestres como Coleman Hawkins e Lester Young. O sax tenor não esteve sempre associado, como ocorreu até recentemente, a um som "nervoso" e áspero, a la Gato Barbieri. Ao contrário, no swing e no cool, a "voz" que os solistas davam ao instrumento era geralmente redonda, suave, bem colocada. Outros tempos. Felizmente, mesmo durante a fase dos "angry tenors" (os "tenores zangados"), continuaram existindo alguns mestres que primavam pela qualidade do som, como Sonny Rollins, e hoje em dia voltamos a ter saxtenoristas de som extraordinariamente limpo e nítido, como o jovem Joshua Redman.

EXPOENTES
Anthony Braxton Ben Webster Chico Freeman Coleman Hawkins Dave Liebman Dewey Redman Dexter Gordon Gato Barbieri Ivo Perelman Javon Jackson Joe Henderson Joe Lovano John Coltrane Joshua Redman Lester Young Michael Brecker Moacir Santos Ornette Coleman Pharoah Sanders Pixinguinha Sonny Rollins Sonny Stitt Stan Getz Wayne Shorter

Trompete

Embora o trompete tenha, em certo sentido, perdido, durante os anos 80 e 90, a primazia histórica de que sempre desfrutou ao longo de décadas entre os instrumentos do jazz, ele tem experimentado um renascimento recente. Se o domínio do sax tenor esteve associado à popularização do jazz fusion, o renascimento do trompete tem a ver com a retomada das raízes e formas clássicas e a emergência do latin jazz. Durante muito tempo, as vozes principais das grandes correntes estilísticas do jazz foram os trompetistas: basta lembrar de Louis Armstrong no estilo tradicional de Chicago e no swing, Dizzy Gillespie no bebop, Chet Baker no cool, e Miles Davis no cool e no jazz-rock. Depois de Miles, Freddie Hubbard permaneceu quase solitário como o grande nome do trompete nos anos 70 e 80. Com o surgimento do virtuose Wynton Marsalis, liderando uma releitura da tradição, e do jovem Nicholas Payton, mais moderno, e com o sucesso do latin jazz, nicho de grandes virtuoses como Arturo Sandoval, o trompete pode estar caminhando para recuperar sua antiga glória.

EXPOENTES
Chet Baker Cláudio Roditi Clifford Brown Dizzy Gillespie Freddie Hubbard Kenny Dorham Louis Armstrong Miles Davis Ornette Coleman Paolo Fresu Wynton Marsalis

Voz

Como lembra Joachim Ernst Berendt, em seu livro O Jazz - Do Rag ao Rock, o jazz nasceu da música vocal. Porém tornou-se, ao longo das décadas, uma música instrumental por excelência, fazendo com que também a voz se tornasse um instrumento, e que os vocalistas passassem a cantar de maneira semelhante a um trompete, um trombone ou um saxofone. Berendt resume a dialética do canto no jazz por meio da seguinte fórmula: todo o jazz vem da música cantada e todo o canto vem da música instrumental.
Em que pese essa tentativa de aproximação com o instrumental, é certo que a voz tem menos recursos do que os instrumentos construídos pelo homem - por exemplo no que se refere à extensão, à potência sonora ou à velocidade de articulação, para não falar na capacidade de emitir notas simultâneas, base da harmonia e da polifonia. No entanto, ainda assim a voz humana é sem dúvida o instrumento mais flexível e com maior potencial expressivo de todos.
Aproximando-se da estética instrumental, e privilegiando elementos como a expressividade, o timbre e o "swing", é claro que o canto jazzístico não poderia seguir os mesmos padrões da música de concerto. A maioria dos cantores de jazz não se enquadraria dentro dos critérios técnicos do canto lírico, por exemplo. O canto no jazz admite um espectro muito amplo, quase ilimitado, de técnicas, estilos e abordagens.

EXPOENTES
Billie Holiday Chet Baker Dee Dee Bridgewater Dinah Washington Eliane Elias Ella Fitzgerald Fats Waller Louis Armstrong Luciana Souza Peggy Lee Rosa Passos Sarah Vaughan Woody Herman

(V.A. Bezerra, 2001)
Fonte: www.ejazz.com.br /

domingo, 16 de agosto de 2009

ESTILOS DE JAZZ

New Orleans

O primeiro estilo bem bem definido do jazz - e bem documentado por gravações originais - é aquele que se originou no final dos anos 10 e início dos anos 20 na cidade famosa por seus bares, saloons e bordéis. O jeito New Orleans de fazer jazz teve, como principais expoentes, pioneiros como King Oliver com sua Original Creole Jazz Band, Jelly Roll Morton e Sidney Bechet. No conjunto de King Oliver despontou Louis Armstrong. O estilo New Orleans não se limitou à cidade na qual nasceu: em particular, foi instalar-se também em Chicago e New York. O New Orleans pode ser considerado, em certa medida, "moderno" - diferentemente do blues arcaico, do dixieland, do ragtime, etc - porque nele já estão presentes os parâmetros fundamentais que guiam uma performance moderna de jazz: o swing, a seqüência de solos improvisados, os padrões de técnica instrumental e virtuosismo. A seção rítmica ainda se limita a um papel de acompanhante, com exceção do piano, que ocasionalmente já sola (principalmente se tocado por mestres como Earl Hines). (V.A. Bezerra, 2001)

Swing

O swing ficou indelevelmente associado às grandes orquestras, e o período que vai aproximadamente de 1938 a 1943 ficou conhecido como era do swing. De fato, as mais célebres formações orquestrais do jazz atuaram na era do swing: Glenn Miller, Benny Goodman, Artie Shaw, Count Basie, Duke Ellington (embora a orquestra do Duke estivesse destinada a grandes vôos também em outros estilos). O swing conta com uma audiência vasta e fiel ainda hoje. Extrema qualidade técnica, perfeito acabamento formal, arranjos elegantes e caráter dançante eram as marcas do estilo, que nem por isso carecia de vigor, como provam as performances da possante máquina instrumental dirigida por Basie.
De qualquer modo, é fato que o swing não se notabilizou pelo experimentalismo ou pela ousadia. Existiam na época certas fórmulas muito bem testadas que, com maior ou menor flexibilidade, eram amplamente adotadas pelos músicos, arranjadores e bandleaders. Não por acaso, a frenética revolução do bebop viria como uma resposta ao swing.
Uma avaliação do swing, para ser justa, precisa considerar o seu mérito musical e também seu espírito conformista; mas também se deve atentar para dois aspectos. Primeiro, o fato de que o próprio nome do estilo seja também o nome de uma qualidade muito valorizada no jazz - independentemente do gênero - indica que existe ali algo de profundamente válido em termos jazzísticos. Em segundo lugar, o swing foi um celeiro de talentos. Muitos músicos que depois desenvolveriam estilos próprios e viriam mesmo a inaugurar novas correntes no jazz são oriundos das orquestras da era do swing. (V.A. Bezerra, 2001)

Bebop

Por volta de 1945, não se poderia imaginar um estilo mais diametralmente oposto ao espírito convencional e comercial do swing do que o bebop. O nome vem das onomatopéias pronunciadas pelos músicos imitando o fraseado frenético dos seus instrumentos. O bebop privilegia os pequenos conjuntos e os solistas de grande virtuosismo. Talvez o elemento que sofreu a maior modificação dentro da revolução bebop tenha sido o ritmo, com a proliferação de síncopas e de figuras rítmicas complexas. O fraseado é flexível, nervoso, anguloso, cheio de saltos que exigem uma técnica instrumental muito desenvolvida. Além dos fundadores Charlie Parker e Dizzy Gillespie, encontramos entre os expoentes do bebop os músicos que se enontravam regularmente no "Minton´s" do Harlem e na 52nd Street, como o pianista Thelonious Monk (apesar deste ter acabado por desenvolver um estilo muito pessoal), os bateristas Kenny Clarke e Max Roach e o guitarrista Charlie Christian; e também o vibrafonista Milt Jackson, o pianista Bud Powell e o trombonista Jay Jay Johnson.

Hard Bop

O Hard Bop pode ser entendido, sob certos aspectos, como um desenvolvimento e uma radicalização do bebop. Caracterizar e analisar este estilo não é tarefa simples - e por isso mesmo constitui um problema interessante - por duas razões. Primeiro, o Hard Bop nasce da ação de dois movimentos opostos, ambos a partir do bebop: um em direção a uma maior elaboração e complexidade, e outro em direção a uma certa simplificação. Em segundo lugar, o fato de ser um estilo que abrange um período de tempo relativamente longo, sofrendo transformações ao longo desse tempo, também contribui para dificultar a captação de seus traços fundamentais.
Consideremos primeiro a natureza ao mesmo tempo simples e complexa do Hard Bop. Por um lado, pode-se constatar que ele se vale de temas mais simples e com menos filigranas que o bebop, delineando linhas melódicas menos angulosas. (Os hardboppers freqüentemente interpretam composições próprias, reduzindo a presença do repertório standard.) Os músicos revelam uma certa influência de estilos como o soul e o rythm & blues, e o som ganha mais agressividade. Os acompanhamentos se valem às vezes de repetição de acordes e de células rítmicas em ostinato. Quando essas células são particularmente sincopadas, o jazz resultante é dito “funky”.
Já no aspecto da complexidade, existe uma preocupação maior com a arquitetura das composições. As estruturas passaram a ser mais complexas do que os blocos de 32 compassos sobre os quais os solistas tradicionalmente improvisavam. Mudanças de compasso e de andamento também se tornam mais comuns. A estrutura harmônica, ao se tornar mais econômica em decorrência da simplificação que se dá no plano rítmico, paradoxalmente abre caminho para uma riqueza maior, pois impõe menos restrições sobre os improvisos dos solistas, que podem exibir um maior arrojo tonal. O resultado é que o Hard Bop acaba incorporando aspectos do jazz dito modal (que se baseia mais nos acordes do que na melodia-tema, e permanece por um tempo maior em cada acorde). O papel dos instrumentos da seção rítmica também é redefinido: em particular, contrabaixo e bateria ganham maior liberdade e atingem a emancipação dentro do conjunto de jazz. Na verdade, no Hard Bop os instrumentos da seção rítmica freqüentemente assumem o primeiro plano.
Poderíamos dizer que o Hard Bop apresenta, em relação ao bebop, uma menor complexidade no sentido “microscópico”, isto é, no plano da melodia e do fraseado, e uma maior complexidade “macroscópica”, ou seja, no plano da estrutura composicional.
O segundo grande complicador para uma análise do Hard Bop - que dificulta a busca de uma coesão estética dentro desse estilo - é o fato de abarcar um período de quase 50 anos da história do jazz. Nesse tempo, certamente houve transformações - compare o jazz “funky” de Horace Silver com o jazz dos “young lions” oriundos das formações mais recentes dos Jazz Messengers, como Wynton Marsalis. O espectro de estilos individuais compreendido entre um extremo e outro é muito amplo. Porém, as transformações são suficientemente graduais para que se perceba uma certa continuidade histórica. Na verdade, pode-se dizer que a maior parte do jazz considerado hoje em dia como mainstream (isto é, excluindo estilos fortemente característicos como a fusion, o free jazz e o latin jazz), nada mais é que uma forma de Hard Bop.
Ocupam lugar de destaque no Hard Bop os conjuntos liderados pelo pianista Horace Silver e as várias formações dos Jazz Messengers de Art Blakey. Além de Silver e Blakey, destacam-se ainda os sax-tenoristas Sonny Rollins, Hank Mobley, Clifford Jordan e George Coleman, os trompetistas Clifford Brown, Art Farmer e Lee Morgan, os sax-altistas Cannonball Adderley e Jackie McLean, o pianista Wynton Kelly e o baterista Max Roach. No estilo mais soul ou funky, atingiram notoriedade, além de Horace Silver, os organistas Jimmy Smith e Jack McDuff. Entre os nomes mais modernos que reciclam o Hard Bop encontramos os trompetistas Roy Hargrove, Terence Blanchard e Wynton Marsalis, o sax-tenorista Branford Marsalis e o organista Joey DeFrancesco. O próprio John Coltrane também pertenceu a essa corrente durante um certo período de sua carreira (até por volta de 1957), porém logo desenvolveria uma linguagem totalmente pessoal, que em si mesma constitui um estilo. Também os veteranos Freddie Hubbard e Wayne Shorter, em seus momentos menos fusion (principalmente durante os anos 60), estiveram ligados ao Hard Bop. (V.A. Bezerra, 2001)

Cool

O cool jazz nasce com o disco de Miles Davis, Birth of the Cool, de 1949, embora tenha no saxtenorista Lester Young um precursor. O cool representou uma reação mais cerebral e camerística à tórrida sintaxe do bebop. Entre os expoentes do cool jazz encontram-se Gerry Mulligan, com seu famoso quarteto sem piano, Stan Getz, Chet Baker e Lennie Tristano. Embora mais introspectivo e contido, seria equivocado generalizar e associar o cool jazz com uma espécie de jazz "frio", sem swing ou sem alma. Pode-se encontrar, nas gravações cool, ritmos ágeis, solos intensos e síncopas que nada deixam a dever ao bebop. É interessante notar que o mesmo Miles que fundou o cool jazz ainda iria impulsionar outras revoluções estéticas nas décadas que se seguiriam. O cool gerou um estilo derivado, o West Coast jazz. (V.A. Bezerra, 2001)


West Coast

O baterista Shelly Manne costumava apresentar seus músicos assim: “No sax alto, Frank Strozier, de Memphis, Tenessee. Ao piano, Russ Freeman, de Chicago, Illinois. Nosso trompetista é Conte Candoli, de Mishawaka, Indiana. No contrabaixo, Monte Budwig, de Pender, Nebraska. E eu sou Shelly Manne, da cidade de Nova Iorque. Nós tocamos West Coast jazz”...
A blague de Manne, que também foi usada por Stan Getz (registrada no disco Line for Lyons, com Chet Baker), mostra que chamar um determinado estilo de “jazz da costa oeste” pouco ou nada tinha a ver com a localização geográfica. É verdade que no final dos anos 40 e nos anos 50 fazia-se muito jazz em Los Angeles, em particular por músicos que trabalhavam para os estúdios de Hollywood. Na melhor das hipóteses, portanto, a música que faziam deveria se chamar “Los Angeles Jazz”... Mas será que isso basta para definir um estilo musical? Parece muito pouco. Para caracterizar o West Coast jazz é preciso buscar algum outro elemento comum, mais profundo.
Deixando de lado a questão da propriedade ou impropriedade do nome, o que mais foi apontado para caracterizar o West Coast Jazz? Existem aqui alguns equívocos persistentes e algumas verdades. É verdade que se trata de um estilo de jazz que provém, em certa medida e em linhas muito gerais, do cool. Mas é falso que, como já foi afirmado por muitos o West Coast seja: (1) um “jazz de brancos” apenas; (2) um jazz sem swing; (3) um estilo coeso e bem definido. Para desarmar a primeira afirmação, basta lembrar de diversos músicos negros que atuaram no West Coast; a segunda afirmação cai por terra quando se observa que muitos tinham por inspiração o estilo vigoroso de mestres como Ben Webster, Coleman Hawkins, Dizzy Gillespie, Charlie Parker e Bud Powell; quanto à terceira, os estilos individuais abrangiam um espectro bastante variado, indo desde o quase cool até o quase free, passando pelas influências bebopistas e pelas experiências classicistas a la Third Stream.
O fato é que a melhor maneira de definir o West Coast acaba sendo mesmo a simples enumeração de seus expoentes, mais do que a aplicação de algum critério estético bem definido. As fileiras do West Coast incluíam, entre outros, os trompetistas Shorty Rogers e Conte Candoli, o contrabaixista Eddie Safranski, o baterista Shelly Manne e o saxofonista e clarinetista Jimmy Giuffre. Também se destaca o pianista Lennie Tristano, que se tornou cult - efetivamente um musician's musician (músico para os músicos) - com sua música sofisticada e experimental, que oscila entre o cool e o quase free. (V.A. Bezerra, 2001)

Free Jazz

Com o free, o jazz incorporou conquistas estéticas da arte de vanguarda dos anos 60, como a música atonal e aleatória e o happening. O free jazz nasceu "oficialmente" com o famoso disco de 1960 (intitulado precisamente Free Jazz), onde se ouve o quarteto duplo liderado por Ornette Coleman (sax alto) e Eric Dolphy (clarinete-baixo), no qual participaram músicos importantes: Charlie Haden e Scott LaFaro aos contrabaixos, Don Cherry e Freddie Hubbard aos trompetes, Ed Blackwell e Billy Higgins nas baterias. Não obstante, podemos identificar precursores do gênero free, como Charles Mingus, com seu conjunto nos anos 50 e 60, John Coltrane nos anos 60 e principalmente Cecil Taylor, já em meados dos anos 50. (Na verdade, alguém poderia sustentar que Taylor é o verdadeiro "inventor" do free jazz.) No free jazz, a ênfase está na improvisação coletiva. Os músicos não estão presos a temas, nem a padrões de fraseado convencionais, nem à harmonia tonal; em vez disso, eles se valem de acordes e pequenas células combinadas de antemão para se coordenar entre si e se orientar dentro da textura sonora. Por ter uma estrutura extremanente livre e atonal, o free jazz é uma música que nem sempre se deixa escutar facilmente. (V.A. Bezerra, 2001)


Fusion e Jazz-rock

Nascido na virada dos anos 60 para os 70, o jazz-rock acabaria por se tornar, nos anos 70 e 80, sob o nome de fusion, um gênero de enorme sucesso comercial, porém bastante controverso entre os apreciadores de jazz, especialmente entre os fãs mais apegados a uma concepção estrita de jazz.O jazz-rock nasce com o álbum duplo de Miles Davis, de 1969, intitulado Bitches Brew. É verdade que podem ser encontrados alguns precursores do jazz-rock, dois ou três anos antes disso, como o grupo Free Spirits de Larry Coryell, o grupo do vibrafonista Gary Burton e também o Charles Lloyd Quartet (que incluía Keith Jarrett e Jack DeJohnette). Porém, o álbum duplo de Miles é a obra que cristaliza a revolução. Para essa gravação, Miles convocou um grupo numeroso de músicos que viriam a se tornar, quase todos, figuras de proa do jazz-rock dos anos 70 em diante, bem como líderes dos principais conjuntos desse estilo. Encontramos ali o guitarrista John McLaughlin, que iria formar a Mahavishnu Orchestra; o pianista Chick Corea, que iria liderar as diversas formações do Return to Forever; o tecladista Joe Zawinul, que iria fundar o célebre Weather Report; e diversos músicos do primeiro time, como o saxofonista Wayne Shorter, o organista Larry Young, o baixista Dave Holland, e o baterista Jack DeJohnette, entre outros. (O baterista Tony Williams, que havia tocado com Miles até In a Silent Way - o disco que é, estética e cronologicamente, um prelúdio a Bitches Brew - formaria o grupo Lifetime. O tecladista Herbie Hancock, que tocou antes e depois de Bitches Brew - mas não no próprio - formaria o Headhunters.)
O disco de Miles constitui uma experiência jazzística perfeitamente válida e plenamente realizada. Existe, porém, uma diferença muito grande entre o jazz-rock proposto por Miles e a música que se lhe seguiu, tentando trilhar o caminho por ele aberto. E aqui estamos falando não só de outros músicos, mas também do próprio Miles, que se encaminhou cada vez mais na direção do funk (embora o som de seu trompete tenha permanecido inconfundível). Nos anos 70, o jazz-rock (então já rebatizado como fusion) começou a efetuar um movimento de aproximação cada vez maior com o rock; depois, nos anos 80, com a música pop de caráter mais comercial. O som acústico cedeu quase que totalmente o lugar aos instrumentos eletrônicos. Em algum ponto desse percurso, o jazz-rock deixou de ser um terreno de experimentação radical e vital. Existem alguns indicadores estritamente musicais e perfeitamente objetivos dessa perda de identidade jazzística.
Primeiro, o swing jazzístico se perdeu, dando lugar a ritmos mais “quadrados” e óbvios. As síncopas, quando existem, são relativamente rudimentares. Segundo, fez-se tabula rasa da grande tradição do canto jazzístico. As atuações das vocalistas (e dos vocalistas) da fusion, com raríssimas exceções, são pífias. Todas as nuances na exposição de um tema, todos os matizes timbrísticos, todos os desenhos melódicos detalhados, toda a coerência na improvisação - tudo isso desapareceu. É difícil entender como alguns excelentes músicos da fusion, que anos antes haviam acompanhado grandes cantoras e cantores de jazz, podem ter consentido em acompanhar determinadas(os) vocalistas. Pior: não poucos deles resolveram cantar - sem ter a menor noção de como fazê-lo.
Não se pode negar que existiram inúmeros músicos da mais alta competência técnica na fusion, principalmente nos anos 70 (alguns dos quais ainda bastante ativos). Além daqueles citados acima, que tocaram com Miles, podemos citar ainda o guitarrista Pat Metheny, o violinista Jean-Luc Ponty, o baterista Billy Cobham, o tecladista George Duke, os baixistas Jaco Pastorius e Stanley Clarke, para ficar apenas nos mais conhecidos. Também é justo admitir que certos conjuntos eram verdadeiras máquinas instrumentais, em termos de energia, entrosamento e sofisticação. Porém essa qualidade técnica raramente veio acompanhada de profundidade e coerência propriamente jazzísticas.
Já nos anos 80 é difícil evitar o diagnóstico segundo o qual a fusion entrou de vez em uma “fase degenerativa”. Grupos como Spyro Gyra e Yellowjackets transformaram-se em porta-vozes de um tipo de pseudo-jazz, onde se faz uso farto de clichês, tanto melódicos como harmônicos e rítmicos. Enquanto isso, a Elektric Band de Chick Corea ainda procurava fazer uma música com muitos watts mas com alguma substância musical, embora já longe do jazz. (Curiosamente, Corea sempre levou uma espécie de “vida dupla”, com um pé na fusion e outro no mainstream.) A retomada, nessa mesma década, do hard bop, do mainstream e do som acústico pelos chamados “young lions” capitaneados por Wynton Marsalis, reduziu apreciavelmente o espaço da fusion. Nos anos 90, a fusion se reacomodou dentro de um espaço mais reduzido do que desfrutava nos anos 70, e voltou suas antenas na direção do rap e do hip-hop. Representantes modernos incluem os DJs do acid jazz e grupos como o trio Medeski, Martin & Wood.
A conclusão a que se chega, após uma análise do jazz-rock em termos musicais, é que as primeiras obras de jazz-rock que possuem validade enquanto jazz são também as últimas, a saber, as gravações de Miles na virada dos anos 60 para os 70. Depois disso, com o advento da fusion, temos uma fase em que se fez música de qualidade mas que foi perdendo a identidade jazzística e, mais tarde, uma fase em que a própria qualidade musical sofreu uma queda pronunciada.
Certamente, levantar questões é algo em princípio muito salutar. Porém o fato é que as perguntas colocadas pelo jazz-rock em suas origens acabaram se avolumando e se transformando em verdadeiros dilemas para o jazz fusion - dilemas dos quais ele não conseguiu sair, nem tampouco dar-lhes uma resposta satisfatória. Sentimo-nos tentados a imaginar no que se transformaria o jazz-rock se houvesse seguido uma trajetória mais eqüidistante dos dois gêneros que lhe deram origem, ou então se tivesse trilhado um caminho mais próximo do jazz. Mas a vida e a história não se dão no modo subjuntivo... (V.A. Bezerra, 2001)
EXPOENTES
Airto Moreira Billy Cobham Charlie Haden Chick Corea Cuca Teixeira Dave Holland Egberto Gismonti Herbie Hancock Hermeto Pascoal Jaco Pastorius Jean-Luc Ponty John McLaughlin Keith Jarrett Mahavishnu Orchestra Michael Brecker Michel Leme Miles Davis Naná Vasconcelos Nico Assumpção Pat Metheny Return to Forever Ron Carter Thiago do Espírito Santo Tony Williams Wayne Shorter Weather Report Wynton Marsalis

Latin Jazz

Latin Jazz é o nome pelo qual é conhecida a fusão entre o jazz e a música afro-cubana. Essa fusão pode ter suas origens rastreadas até o trompetista e arranjador Mario Bauza. Bauza apresentou Dizzy Gillespie ao percussionista Chano Pozo - o que deu origem a uma famosa parceria entre estes dois no período 1947-1948 - e também incentivou o conhecido bandleader Machito a usar solistas de jazz em suas performances. O bandelader Stan Kenton e o baterista Gene Krupa também introduziram elementos caribenhos no jazz, o que viria a se tornar decididamente uma moda com a ascensão das orquestras de Tito Puente, mais tradicional, e Carl Tjader, mais jazzística, nos anos 50. O Latin Jazz e a música dita "latina" chegaram a ser dos gêneros mais populares naquela época. Em tempos mais recentes, o Latin Jazz adquiriu contornos mais elaborados, deixando de se basear apenas no exotismo e nos ritmos dançantes, para incorporar também elementos do jazz mais avançado. Hoje encontramos nesse estilo grandes virtuoses, como os pianistas Gonzalo Rubalcaba e Chucho Valdés, o saxofonista e clarinetista Paquito D'Rivera e o trompetista Arturo Sandoval, que possuem um discurso musical sofisticado e por vezes até francamente cerebral, sem no entanto deixar e ser vigoroso e contagiante. Os três últimos participaram do grupo Irakere, uma super big band afro-cubana formada em 1973, pela qual passou quase toda a intelligentsia desse estilo musical.
Um rótulo como “jazz afro-cubano” já é um tanto enganoso, uma vez que esconde sob um único termo toda a diversidade musical daquela região do globo. Um rótulo como “jazz latino”, então, é ainda mais genérico e menos informativo. Não obstante, os rótulos parecem ser inevitáveis na mídia e na crítica, e só nos resta resignarmo-nos a usá-los, ainda que seja apenas para facilitar a comunicação. O Latin Jazz hoje não deixa nada a dever - seja em termos de elaboração, de técnica ou de criatividade - às correntes mais avançadas e dinâmicas do jazz moderno. (V.A. Bezerra, 2001)
EXPOENTES
Danilo Perez Dizzy Gillespie Paquito D’Rivera Stan Kenton



Third Stream

A Third Stream ("terceira corrente") procura realizar uma fusão entre o jazz e a música erudita ocidental. O nome, utilizado pela primeira vez pelo compositor Gunther Schuller em 1957, em uma conferência na Brandeis University, sugere a idéia de canalizar duas das correntes preexistentes - a música clássica e o jazz - em uma “terceira” corrente, que reuniria características de ambas. Um exame das composições existentes de Third Stream indica que a tentativa de fusão geralmente se dá sob uma das seguintes formas:
(1) Obras em forma de concerto grosso barroco, isto é, alternando a orquestra clássica, que toca partes compostas, com o grupo de jazz, que executa partes improvisadas. Nesse caso temos mais uma justaposição do que propriamente uma aglutinação de linguagens.
(2) Peças em que músicos de jazz são acompanhados por conjuntos de cordas, que executam um acompanhamento geralmente bastante convencional. Charlie Parker gravou nesse formato, bem como inúmeras cantoras e cantores de jazz. Também neste caso temos uma superposição de linguagens, porém sem verdadeira integração. (Os críticos geralmente consideram que a adição de cordas tem um efeito letal sobre as características verdadeiramente jazzísticas da música, tornando-a adocicada e comercial.)
(3) Peças escritas para conjuntos clássicos, mas que tomam emprestados elementos característicos do jazz, como o swing, ocasionalmente comportando partes improvisadas. Nesta categoria se incluem, por exemplo, as composições orquestrais de George Gershwin como Rhapsody in Blue, Um Americano em Paris e Porgy and Bess, bem como as peças de câmara do compositor Claude Bolling.
(4) Peças compostas para grupos de jazz que se apropriam de técnicas de composição como o contraponto, formas estruturadas (como, por exemplo, a suíte barroca e a sonata), mudanças de compasso e politonalidade. Este seria o caso do quarteto de Dave Brubeck, de algumas composições de Duke Ellington e Charles Mingus e, acima de tudo, do célebre Modern Jazz Quartet liderado por John Lewis.
(5) Peças em que as duas linguagens - clássica e jazzística - se acham integradas de modo orgânico, tanto ao nível da técnica composicional, como na instrumentação e na técnica instrumental. Os elementos jazzísticos e clássicos se acham em equilíbrio. As composições e os arranjos de Gil Evans e George Russell são representativos desta tendência.
O crescimento da Third Stream nos anos 50 fez alguns críticos predizerem que o futuro do jazz estaria nessa fusão com a música clássica. Porém o surgimento de dois novos e vigorosos estilos de jazz contribuiu para frear essa expansão. Primeiro, veio o free jazz dos anos 60, mais espontâneo e comunicativo do que a geralmente austera Third Stream, e que agradou a um público maior (ainda que não em grande escala). Em seguida, veio a fusion dos anos 70, indiscutivelmente dotada de potencial comercial muito maior. Não obstante, continuou a haver experimentos válidos em Third Stream nas últimas décadas, produzindo resultados interessantes a uma taxa reduzida porém constante. Por isso, essa vertente não pode ser considerada esgotada. (V.A. Bezerra, 2001)
EXPOENTES
Dave Brubeck Gil Evans Paul Desmond Stan Kenton

Jazz Brasileiro

Hoje certamente se pode falar em um Jazz Brasileiro, e com iniciais maiúsculas. Constatar a sua existência não é problema. Já defini-lo é algo bem mais difícil.
O rótulo, colocado assim, sem mais, é certamente vago. Será possível torná-lo mais preciso? E de que forma? Uma primeira maneira possível de delimitar o que se entende por "Jazz Brasileiro" seria dizer que ele consiste simplesmente no jazz norte-americano - desde o New Orleans e o Dixieland até o Hardbop, digamos - praticado por músicos brasileiros. Seria brasileiro porque tocado com "sotaque" brasileiro. Essa definição não estaria propriamente errada, porém é demasiado restritiva, deixa muita coisa de fora. Outra maneira seria dizer que o Jazz Brasileiro equivale à Música Instrumental Brasileira Contemporânea, praticada pricipalmente por grupos instrumentais concentrados no eixo São Paulo - Rio de Janeiro - Minas Gerais a partir dos anos 70. Ainda outro caminho seria definir o jazz brasileiro como uma música improvisada segundo uma sintaxe jazzística mas com inflexão e ritmos brasileiros (o que equivaleria, na prática, a uma fusão entre o jazz e a MIBC). Mas neste ponto alguém poderia observar, com justiça, que haveria que se levar em consideração também o chorinho, na medida em que este é o gênero musical que desempenha dentro da cultura musical brasileira o papel análogo ao jazz na cultura norte-americana. E assim por diante: cada tentativa de definição se revela, não falsa, mas incompleta, demasiado restritiva.
Uma coisa é certa: aquilo que percebemos como Jazz Brasileiro não pode ser reduzido a apenas uma dessas linhas estéticas. Também parece improvável que ele possa ser definido como algum tipo de "combinação" desses gêneros em certas proporções relativas. Portanto, quando falamos aqui em Jazz Brasileiro, não estamos falando de um estilo fechado e definido, mas sim plural e mutável.
Provavelmente uma das razões da dificuldade em definir o Jazz Brasileiro reside na riqueza extraordinária da matriz rítmica brasileira. O território brasileiro pulsa de norte a sul numa miríade de ritmos diferentes. Para mencionar apenas alguns, não necessariamente em ordem de importância: o frevo, o maracatu, o maxixe, o xote, o baião, o coco, o martelo, a embolada, a moda, o samba, a bossa nova, a seresta, a rancheira, o batuque. Em outras palavras, poderíamos dizer que não temos um swing apenas, temos muitos.
Uma vez que o Jazz Brasileiro está na intersecção de múltiplas influências, segue-se que podemos procurar as suas origens também em várias direções. Podemos buscar essas origens remontando a Pixinguinha e aos antigos chorões. Ou então podemos voltar até as orquestras de bailes, na época da Segunda Guerra. Ou podemos nos limitar a recuar até uma época mais recente, a do surgimento da bossa nova - que, embora não fosse exclusivamente instrumental, colocou uma nova linguagem harmônica que seria absorvida por muitos instrumentistas. Podemos ainda, finalmente, nos reportar a grupos inovadores e com uma linguagem mais moderna, como o Quarteto Novo.
A pergunta, porém, continua de pé: o que será que une músicos tão díspares como o pianista, regente e arranjador Nelson Ayres, os saxofonistas Mané Silveira, Teco Cardoso e Victor Assis Brasil, o trombonista Raul de Souza, os compositores e multi-instrumentistas Egberto Gismonti e Hermeto Pascoal, a pianista Eliane Elias, os guitarristas e violonistas Heraldo do Monte, Paulo Belinatti e Laurindo Almeida, os percussionistas Naná Vasconcelos, Dom Um Romão, Guelo e Paulinho da Costa, os bandleaders Severino Araújo e Silvio Mazucca, o arranjador Cyro Pereira? Sabemos de antemão que eles possuem estilos individuais muito diferentes entre si. Com que direito, então, os agrupamos sob um mesmo rótulo?
Talvez a solução não esteja numa definição estilística fechada, mas sim na existência de um certo fator, uma certa "brasilidade", para cuja caracterização precisaríamos contar com os préstimos, não de um musicólogo, mas sim de um antropólogo ou sociólogo... Porém esse caminho, embora seja interessante em si mesmo, não se revela de grande valia para o caso presente, porque não temos como realizar aqui uma análise antropológica desse tipo. Enfim, no que diz respeito à caracterização de um Jazz Brasileiro, já se vê que estamos diante de uma tarefa difícil, mais difícil do que caracterizar qualquer um dos estilos "canônicos" do jazz norte-americano.
Por todas essas dificuldades, vamos optar aqui por utilizar uma noção informal e dinâmica de Jazz Brasileiro, que emerge mais das relações de semelhança entre músicos do que de uma definição precisa. Essa teia de vínculos se constrói pouco a pouco com base em cadeias de influência, essas sim algo que somos capazes de mapear. Assim, por exemplo, podemos partir de um nome como Hermeto Pascoal... que colaborou em diversas ocasiões com Heraldo do Monte... violonista e guitarrista como Paulo Belinatti... que tocou e compôs no grupo Pau-Brasil... no qual tocou também Rodolfo Stroeter... que fez parte do importante grupo de vanguarda Grupo Um... onde tocou também Teco Cardoso... virtuose dos sopros como Carlos Malta... que pesquisou ritmos do interior do Brasil como Paulo Freire... que faz parte da Orquestra Popular de Câmara... e assim por diante. Infinitos outros trajetos semelhantes a esse são possíveis. Assim, o conceito de Jazz Brasileiro emerge, ainda que aos poucos e de maneira inevitavelmente imprecisa, da teia de relações entre diferentes artistas. Não é um conceito fechado, mas aberto.
Se pensarmos bem, um fenômeno parecido já ocorria com certos tipos de jazz de fronteira, como o free e o fusion. Certos artistas e obras desses estilos são tão diferentes daquilo que tradicionalmente se entende por "jazz" que, para inclui-los dentro do jazz, somente se operarmos por similaridades e inter-relações, como fizemos aqui.
É possível avançar mais um pouco na caracterização do Jazz Brasileiro destacando alguns dos traços característicos dessa música. O primeiro diz respeito à formação instrumental. Como se sabe, a música brasileira tem uma boa e sólida tradição instrumental nos sopros (principalmente metais), e também no piano, violão e percussão. Menor é a tradição de instrumentos de arco, por exemplo (e conseqüentemente de orquestras sinfônicas, que têm nas cordas a sua espinha dorsal). Isso condiciona, de certo modo, os efetivos instrumentais que são empregados na música brasileira.
No plano estético, uma característica interessante seria uma certa concisão, uma economia de meios - a despeito da imagem tradicional do Brasil como um país exuberante, excessivo, festivo e carnavalesco. Podemos observar que, ao contrário dessa imagem estereotipada, muitas manifestações musicais se destacam por melodias breves, secas, cortantes, claramente desenhadas; harmonias áridas e ásperas; ritmos simples e poderosos; cantorias a capella desérticas e hieráticas. Isso se observa tanto na música vinda da caatinga, como naquela do cerrado, como na do pantanal. Mesmo o samba, este produto de exportação hoje já devidamente industrializado, é tradicionalmente considerado como sendo da melhor fatura quanto mais econômico e sucinto, tanto nos versos como na melodia. Para dar outro exemplo, a bossa nova consagrou a compressão da informação, em canções breves, com versos altamente poéticos, emoldurados por poucos e sofisticados acordes. Menciono essas raízes para sugerir que o rebarbativo, o ornamentado e o prolixo não são típicos da música brasileira.
Em particular, poucas coisas são mais estranhas à música brasileira do que os acompanhamentos adocicados e filigranados, hoje em dia onipresentes na música pop, executados com cordas - ou, mais recentemente, com sintetizadores. Tampouco é característico da tradição brasileira, por exemplo, o uso das pomposas, rebrilhantes e coreografadas bandas marciais, tão populares na América do Norte: nossas retretas são diferentes. Outros exemplos são possíveis: dificilmente surgiria aqui uma música como a de Richard Wagner, por exemplo. Até o barroco mineiro é econômico! Neste ponto, talvez ocorra a alguém mencionar, como contra-exemplo, a figura de um compositor caudaloso como Heitor Villa-Lobos. Porém é importante notar que mesmo Villa mantém permanentemente a simplicidade como um pólo ativo na criação musical, opondo-se ao outro pólo, o da complexidade. Isso quando ele não gera, magistralmente, a abundância a partir da simplicidade, como faz em tantas passagens.
Dizia Ezra Pound que poesia = concisão. É essa equação que talvez explique o caráter "poético" da música brasileira. Voltando os nossos ouvidos para o Jazz Brasileiro, percebemos que essa "escola da concisão" produziu frutos. O foco da música é geralmente bem definido. O fraseado é incisivo. Os acompanhamentos são econômicos. A harmonia é concentrada, porém de grande efeito. Mesmo o humor e a decantada "brejeirice" brasileira, que não deixam de dar as caras, são obtidos de maneira "esperta", sempre ligando A e B pelo caminho mais curto possível: quem piscar, perde a gag.
Dos anos 80 do século XX para cá, pudemos presenciar uma considerável valorização do Jazz Brasileiro, embora o destaque dado pela mídia àqueles artistas ainda esteja aquém do que seria desejável. Mas tem crescido no público e na imprensa a percepção de que os músicos brasileiros foram e são capazes de criar uma música elaborada, coerente, tecnicamente bem realizada, que sem dúvida pode se equiparar ao que de melhor o jazz norte-americano já produziu. E com uma qualidade adicional: trata-se de uma música vital, que traduz as melhores características da civilização brasileira. Na medida em que acreditamos que existe algo na brasilidade que é de algum modo relevante para o restante do mundo, e para a humanidade como um todo, o Jazz Brasileiro é um canal aberto para a difusão dessa coisa boa que trazemos dentro de nós.
(V.A. Bezerra, 2001)
EXPOENTES
Airto Moreira André Mehmari Antônio Carlos Jobim Bocato César Camargo Mariano Cláudio Roditi Conrado Paulino Cuca Teixeira Edison Machado Egberto Gismonti Eliane Elias Ernesto Nazareth Hélio Delmiro Heraldo do Monte Hermeto Pascoal Jeff Gardner Laurindo Almeida Marvio Ciribelli Moacir Santos Mozar Terra Naná Vasconcelos Nelson Ayres Nenê Nico Assumpção Paulinho Nogueira Paulo Belinatti Paulo Moura Pixinguinha Proveta Raul de Souza Renato Borghetti Romero Lubambo Rosa Passos Sebastião Tapajós Thiago do Espírito Santo Toninho Horta Victor Assis Brasil Zé Eduardo Nazário Zimbo Trio

Fonte: www.ejazz.com.br

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